sexta-feira, 29 de junho de 2012

Bondade também se aprende (Cora Coralina)

”Eu não tenho medo dos anos e não penso em velhice. E digo prá você: não pense. Nunca diga estou envelhecendo ou estou ficando velha.
Eu não digo. Eu não digo que estou ouvindo pouco. É claro que quando preciso de ajuda, eu digo que preciso.
Procuro sempre ler e estar atualizada com os fatos e  isso me ajuda a vencer as dificuldades da vida.
O melhor roteiro é ler e praticar o que lê. O bom é produzir sempre e não dormir de dia. Também não diga prá você que está ficando esquecida, porque assim você fica mais.
Nunca digo que estou doente, digo sempre: estou ótima. Eu não digo nunca que estou cansada.
Nada de palavra negativa.
Quanto mais você diz estar ficando cansada e esquecida, mais esquecida fica. Você vai se convencendo daquilo e convence os outros. Então silêncio! Sei que tenho muitos anos.
Sei que venho do século passado, e que trago comigo todas as idades, mas não sei se sou velha não.
Você acha que eu sou? Tenho consciência de ser autêntica e procuro superar todos os dias minha própria personalidade, despedaçando dentro de  mim tudo que é velho e morto, pois lutar é a palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes.
O importante é semear, produzir milhões de sorrisos de solidariedade e amizade.
Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça.
Digo o que penso, com esperança. Penso no que faço com fé. Faço o que devo fazer, com amor.
Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende." 
 
CORA CORALINA

Breve reflexão sobre Currículo Escolar


No trabalho final de uma das disciplinas da Pós graduação Educação e Currículo da PUC-SP, foi proposto discutir sobre o currículo escolar na atualidade. Discuti o currículo que podemos ter diante das incertezas de um tempo pós moderno. Sendo a escola uma instituição de normalização, disciplina e um direito universal  mais especificamente desde os fins do séc. XIX, quando passou a ser gratuita e laica, com o fim precípuo de homogenização. Mas o que fazer diante das diversidades e múltiplas realidades em que ocorrem rápidas e profundas  transformações econômicas, sociais e políticas e a tecnologia encurta a distancia e o tempo é descontínuo...esses e outros aspectos cumpre aos educadores deste século colocarem em suas agendas de preocupações se quiserem uma educação escolar mais coerente com as necessidades atuais. Podemos refletir que provavelmente "Sem um passado representado pelos ritos, pelas tradições e pela memória, não pode haver raízes, e sem raízes, os seres humanos se vêem condenados a ficarem isolados no tempo; sendo muito fácil, então, passarem desse isolamento à autodestruição." (Nisbet, in J.Gimeno Sacristán, Poderes instáveis em Educação, Porto Alegre: ArtMed, 1991).Então temos muito a fazer nesse desafio de rehabilitar a escola em pleno século XXI.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Poesia

Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim, nem que eu faça a falta que elas me fazem. O importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível, e que esse momento será inesquecível.(Fernando Pessoa)

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Drumond II


A um ausente


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.


Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?


Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.


Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

A um ausente (que se foi)


Cansa sentir quando se pensa (FPessoa)


Fernando Pessoa
 
  Cansa Sentir Quando se Pensa
 
 Cansa sentir quando se pensa.
No ar da noite a madrugar
Há uma solidão imensa 
Que tem por corpo o frio do ar.Neste momento insone e triste
Em que não sei quem hei de ser,
Pesa-me o informe real que existe
Na noite antes de amanhecer.
Tudo isto me parece tudo.
E é uma noite a ter  um fim
Um negro astral silêncio surdo
E não poder viver assim.
(Tudo isto me parece tudo.
Mas noite, frio, negror sem fim,
Mundo mudo, silêncio mudo -
Ah, nada é isto, nada é assim!)
 

terça-feira, 26 de junho de 2012

Carlos Drumond de Andrade

Acordar, viver (C. Drumond de Andrade)


Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.


Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?


Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?


Ninguém responde, a vida é pétrea.